A notícia da necessidade de um tratamento de canal costuma vir acompanhada de duas grandes preocupações: a dor e a duração do tratamento. A pergunta “quanto tempo dura?” é frequente e pertinente, pois impacta a agenda e a ansiedade do paciente. A resposta, no entanto, não é um número fixo de minutos ou de sessões. O tempo necessário para realizar um tratamento endodôntico de qualidade depende fundamentalmente de dois fatores: a anatomia do dente em questão e a condição clínica da sua polpa (o nervo).

A odontologia moderna, com suas tecnologias avançadas, tornou o tratamento de canal muito mais rápido e previsível do que no passado. A ideia de inúmeras e dolorosas visitas ao dentista ficou para trás. Hoje, muitos casos podem ser resolvidos em uma única sessão, mas a decisão sobre o número de consultas é sempre baseada em critérios biológicos e de segurança.

O Fator Anatômico: Dentes Anteriores vs. Molares

A complexidade interna de cada dente é o principal fator que determina o tempo de cadeira necessário para o procedimento.

Dentes Unirradiculares (um canal)

Dentes anteriores, como os incisivos e os caninos, geralmente possuem apenas uma raiz e um único canal. A localização e o acesso a este canal são diretos e mais simples. Por essa razão, o tratamento de canal em um dente anterior é, tipicamente, mais rápido e com alta chance de ser concluído em uma única consulta.

Dentes Multirradiculares (múltiplos canais)

Pré-molares e, especialmente, os molares, possuem múltiplas raízes e um sistema de canais muito mais complexo, com três, quatro ou até mais canais. Localizar, limpar e obturar cada um desses canais, que muitas vezes são curvos e atrésicos (muito finos), exige muito mais tempo e habilidade do especialista (o endodontista). O tratamento em um molar, portanto, é naturalmente mais demorado.

O Fator Clínico: Infecção e a Necessidade de Múltiplas Sessões

O estado em que a polpa do dente se encontra no momento do diagnóstico é o que define se o tratamento pode ser feito em sessão única ou se precisará de mais de uma visita.

Sessão Única: Casos de Polpa Viva ou Necrose Sem Infecção

O tratamento em sessão única é o ideal e pode ser realizado quando a polpa está viva, mas inflamada de forma irreversível (pulpite), ou quando há necrose pulpar, mas sem uma infecção ativa com presença de pus (abscesso agudo). Nesses casos, o endodontista consegue limpar e obturar todo o sistema de canais no mesmo dia.

Múltiplas Sessões: Casos de Infecção e Abscesso

Quando o dente apresenta uma infecção crônica ou um abscesso agudo com presença de pus e inchaço, a abordagem em múltiplas sessões é mais segura. Na primeira consulta, o profissional drena a infecção e limpa os canais, mas, em vez de obturá-los, ele aplica uma medicação intracanal (um curativo) para ajudar a combater as bactérias. O dente é selado provisoriamente, e o paciente retorna após uma ou duas semanas para a conclusão do tratamento. Essa etapa intermediária com a medicação aumenta a taxa de sucesso em casos de infecção. A duração de um tratamento de canal, portanto, é uma decisão clínica, não uma questão de conveniência, sempre visando o melhor resultado biológico para salvar o dente.