A recomendação de visitar o dentista a cada seis meses para uma limpeza profissional (profilaxia) está tão enraizada na cultura popular que se tornou quase um dogma. Para muitas pessoas, este intervalo é seguido sem questionamentos. Mas será que a regra dos “seis em seis meses” é uma ciência exata e se aplica a todas as pessoas da mesma forma? A resposta, segundo a odontologia moderna baseada em evidências, é não.

Embora o intervalo de seis meses seja um excelente ponto de partida e adequado para uma grande parcela da população com boa saúde bucal, a frequência ideal para a limpeza dental profissional não é uma receita de bolo. Ela deve ser personalizada, baseada em uma avaliação de risco individual realizada pelo cirurgião-dentista. Para alguns, seis meses é o ideal. Para outros, pode ser pouco. E para alguns poucos, pode ser até mais do que o necessário.

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O Protocolo Padrão: A Origem e a Lógica dos Seis Meses

A recomendação semestral não é aleatória. Ela se baseia em princípios lógicos de prevenção e controle de doenças bucais.

O Ciclo de Formação da Placa e do Tártaro

A placa bacteriana, uma película pegajosa que se forma constantemente sobre os dentes, pode ser removida com a higiene diária. No entanto, em áreas de difícil acesso, ela pode endurecer e se transformar em tártaro (cálculo) em questão de semanas. O tártaro, por sua vez, só pode ser removido com instrumentos profissionais. O intervalo de seis meses é considerado um período razoável para interceptar o acúmulo de tártaro antes que ele cause danos mais sérios, como a gengivite.

Detecção Precoce de Outros Problemas

A consulta de limpeza também é uma oportunidade para o dentista realizar um exame completo da boca e detectar precocemente outros problemas, como lesões de cárie em estágio inicial, infiltrações em restaurações antigas ou lesões suspeitas na mucosa.

A Individualização do Risco: Por Que seu Intervalo Pode ser Diferente

A odontologia moderna foca na individualização do tratamento. A frequência da profilaxia deve ser ajustada conforme o risco de cada paciente em desenvolver doenças.

Pacientes que Precisam de Intervalos Menores

Pacientes com histórico de doença periodontal (periodontite), por exemplo, entram em um programa de manutenção com intervalos muito mais curtos, geralmente a cada três ou quatro meses. Isso é crucial para evitar a recidiva da doença. Pacientes com alto risco de cárie (devido a uma dieta rica em açúcar ou boca seca), fumantes, diabéticos descontrolados e pessoas com dificuldade motora para a higiene também se beneficiam de visitas mais frequentes.

Pacientes que Poderiam Ter Intervalos Maiores

Por outro lado, um paciente jovem, com excelente higiene bucal, sem histórico de cáries ou doença gengival e com uma dieta saudável, poderia, teoricamente, ser reavaliado anualmente. No entanto, a maioria dos profissionais ainda prefere o intervalo de seis meses como uma rede de segurança para não perder a oportunidade de um diagnóstico precoce. A resposta para a frequência ideal da sua limpeza dental só pode ser dada pelo seu dentista. Questione-o na próxima consulta. Uma conversa honesta sobre seus hábitos e seu histórico de saúde permitirá que ele defina o intervalo de prevenção que é, de fato, perfeito para você.